A poesia está proibida, sentir então…

A poesia está proibida, sentir então…

Parece errado sentir em meio à sociedade atual. Sucesso e lucro estão sempre nas pautas das grandes mídias. “Mandamentos” do sucesso pessoal envolvem – muitas vezes – lucrar. Oferece-se cursos para criar dinamismo, liderança, sinergia e engajamento na aplicação de novos meios de produção, educação e trabalho (até cansa listar coisas assim…). E neste cenário caótico percebemos que sentir é perigoso; e a poesia e as artes estão se tornando obrigações: poesia é obrigação curricular em literatura. E sentir… bem… sentir é outra coisa – obrigatoriamente sufocada. Porém é na contramão destas ideias formatadas que o Novomundo caminha (ainda bem).

Todos os dias – nós que acreditamos na educação – nos perguntamos como fazer para levar aos alunos o conhecimento. Há estratégias, conteúdos, treinos e material vasto. Educar nas escolas atualmente, apesar de ser tarefa árdua, envolve possibilidades reais. E por mais que as condições sejam adversas está sempre nas mãos do educador a possibilidade da transformação e da realização (este blog mostra vários exemplos disso). Mas a educação vai além dos conteúdos, isso é óbvio. E é no sentir de nossos jovens que pode-se encontrar o maior tesouro das suas vidas. Porém tudo pode ser perder se um aluno se cala. Ou se ele se nega a refletir sobre sua condição. E se ele se isola? E se o aluno decide não sentir? Na vastidão da superficialidade das letras de músicas da moda, nos filmes sem conteúdo e nas novelas sem preocupação social encontramos fontes usuais para evitar as coisas da alma e do coração. “A vida é difícil para os sonhadores”.

Neste cenário, que parece desesperançoso, a poesia e as artes podem – ainda – cumprir papéis revolucionários. A palavra é um catalisador e tem o poder de traduzir, transformar e ressignificar. É na intimidade das letras e linhas que o aluno se reconhece e sabe que sentir não é proibido. É por meio da palavra que ele diz, expõe, grita, marca o tempo e o espaço, e ainda consegue – na liberdade criativa que somente a arte propõe – SER. É este “ser” que nos é inerente. É este “ser” que é fundamental para nossas construções: matéria básica de nossa felicidade plena.

Obviamente as carreiras e os estudos são importantes. E certamente um juiz, ou um engenheiro, ou um médico serão muito melhores em suas áreas de atuação se tiverem convivido e praticado a beleza da poesia, do teatro, das artes – que refinam não somente gostos – mas apuram muito bem a alma para o que é belo, sensibilizam e tornam o ser generoso com outros seres. Escrever, produzir, criar – enfim – ainda é a forma mais humana e pura de se chegar a si mesmo. E diariamente penso e sinto (pensamos e sentimos) em como realizar isso. E realizamos.

É neste papel de sensibilização por meio das artes e da palavra que nossas aulas de literatura acontecem. Há outros caminhos sensíveis para as emoções em nossa escola, obviamente, mas nas aulas de artes, teatro e literatura nossos alunos podem e devem ter o coração como guias – e o que vai neste pulsar intenso e coronário é o que os marcará vivamente, por todos os tempos – fazendo-os melhores em sua carreiras, relações e almas. O resultado talvez seja incalculável – já que o “ser feliz” não tem medida nem relatórios.  Ensinar, em nosso caso,  é também sentir.


Professor JRoberto é coordenador pedagógico e educador do Ensino Fundamental I (teatro) e Ensino médio (literatura e redação) no Colégio COC Novomundo.

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