Na última terça, 30, os alunos tiveram mais uma sessão do Clube do Filme – projeto de cinema de nossa escola – com orientação do coordenador JRoberto e do auxiliar Renato Maciel.
Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller’s day off, 1986) é obviamente um clássico da Sessão da Tarde – e conta a história de um adolescente que decide “bolar” aula num nível máximo de superação e maestria. Este foi o filme escolhido para a turma nesta edição do Clube do Filme. E – acreditem – eles adoraram. Mesmo sendo antigo, mesmo não tendo celulares.
Parece estranho que utilizemos este filme, afinal, a temática do clássico de John Hughes incentivaria a mesma ação dos alunos? Aí pensamos: seria o mesmo que dizer que os videogames de futebol, tão famosos entre nossos jovens, os transformariam, num piscar de olhos, em atacantes do Real Madrid.
Assim Ferris Bueller’s day off entra em nossa análise do Clube do Filme como um clássico do cinema dos anos 80 – essencial para compreender linguagem cinematográfica, construção de roteiro, comédia, sensibilidade, criatividade, enfim inúmeras possibilidades mesmo que num filme aparentemente – e só aparentemente – banal.
Ferris (personagem do “perfeito para o papel” Matthew Broderick) é um típico adolescente de classe média americana. Entediado com a escola tradicionalista e entediante, o jovem arma um plano elaboradíssimo para se livrar de mais um dia de aula… mas para Ferris não basta simplesmente fugir. Ele tem de levar o melhor amigo e a namorada a ótimos restaurantes, museus, jogos e tudo aquilo que ele considera parte de um dia incrível.
O que destoa – para o bem da personagem – é o fato de que Ferris Bueller arma seu plano, mas admira a arte; Engana o diretor da escola, mas trata bem as pessoas; Mente para os pais, mas joga o lixo no cesto. Essas dicotomias fazem dele um personagem completo, com claros defeitos e qualidades também aparentes. Isso o torna um herói mais próximo de seu público (nós), já que carregamos as mesmas porções.
Em sua cinematografia a obra é aprimorada. Inova os anos 80 com takesespeciais sobre os olhos das personagens principais e com o recurso do protagonista que conversa com a plateia (relação eu-tu). Assim, o diretor dita uma narrativa de cortes e música com função diegética (os sons não são para simples decoração, já que compõem ação, clima, sensações). As técnicas são referenciais até hoje. Não é à toa que o diretor John Hughes produziu outros clássicos da época, como Clube dos 5, Gatinhas e gatões, Garota de rosa shoking… todos aparentemente levados para a comédia, mas sempre abordando a difícil temática das relações parentais – item importante também em Ferris Bueller’s day off.
Curtindo a vida adoidado é de 1986, mas ainda é obrigatório. Divertido e inteligente, é um filme para ser visto legendado (e até dublado, com as vozes dos anos 80, época em que esse recurso tinha mais charme). Dê uma chance a este filme que certamente você já assistiu, mas que vale repetir a sessão. Ele continua moderno, e muito antes dos filmes Marvel, já trazia cenas pós-créditos e – apesar da carência de grandes recursos tecnológicos – tem grandes formatos de narrativa e criatividade.
* JRoberto Sousa.
Coordenador e professor de literatura, redação e teatro