“A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la, como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade.”
A Necessidade da Arte”, Ernst Fischer
Diante dos últimos acontecimentos relacionados ao boicote de exposições e espetáculos teatrais, decidi escrever um pouco sobre a função da arte educação na escola e na sociedade. Não podemos em pleno século XXI pensarmos como na Renascença, a complexidade da contemporaneidade é algo que não deve ser simplificado para a manipulação das pessoas.
A criação artística está para além do senso comum e tratando-se do relato no primeiro parágrafo, ela tem como uma de suas propostas a abertura de novos olhares para o mundo. O que é velado e torna-se visceralmente exposto, incomoda a ponto de desejarem não querer ver, ouvir e sentir. A arte pode ser denúncia, algumas vezes explícita, outras mais submersas em códigos estéticos.
O trabalho da arte educação não tem a intenção de formar artistas ou críticos; isso seria uma pretensão sem tamanho. Na sala de aula os processos ocorrem de acordo com as necessidades das alunas e alunos, e sempre dialogando com o repertório pessoal e técnico que possuem. Muitas vezes é preciso o incentivo para que o objetivo da atividade não seja visto como algo inalcançável. A maioria das alunas e dos alunos, automaticamente, respondem: “Eu não sei desenhar… dançar. Eu não consigo fazer…”. Isso acontece porque a arte é vista de forma elitista, no sentido intelectual e hierárquico, e como educador, primeiramente tento mostrar que é possível e muito prazeroso criar a partir do que se imagina e não do que consideram como ideal (desenho realista, por exemplo).
Se conseguirem se divertir desenhando, pintando, movimentando e sonorizando, os conceitos serão mediados com a intenção de contextualizar e não simplesmente para decorar e responder.
A Abordagem Triangular, criada pela arte educadora Ana Mae Barbosa, fala sobre: VER – FAZER – CONTEXTUALIZAR. Essas três pontas do triângulo permitem um processo (não uma receita) que garante a liberdade pedagógica sem perda de prática ou conteúdo. A leitura de obras é um exercício simples e que organiza as percepções visuais e históricas em um momento. Muitas das aulas de arte acabam se tornando interdisciplinares, pois as obras estão diretamente ligadas ao período histórico da qual pertencem e as características desse período estão expostas ali, naquela imagem.
Ao mostrar obras de diferentes artistas, as alunas e alunos conseguem entender a variação de possibilidades em cores, formas, texturas e pensamentos na imagem e assim se permitem explorar materiais e estéticas, mesmo que não consciente tecnicamente. Então, quando falamos de arte contemporânea e de obras que trazem assuntos que são delicados e recorrentes na nossa sociedade, estamos mais uma vez contextualizando o nosso tempo.
* Professor Thiago Nascimento é arte-educador no Colégio COC Novomundo da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.